cadeira 6

 

Cadeira 6 - DR. LEÔNIDAS MELLO DEANE

(1914-1993)

Nasceu em Belém do Pará em 1914, filho de Leonard Eustace Deane e Helvécia de Mello Deane. Seu pai era inglês. Graduado pela Faculdade de Medicina e Cirurgia do Pará em 1935; fez mestrado na Universidade de Johns Hopkins, em Baltimore, e posteriormente na Universidade de Michigan, ambas nos Estados Unidos.

Em 1935, ingressou como professor de Microbiologia na instituição em que se formou médico. Foi ainda parasitologista do Instituto de Patologia Experimental do Norte, atual Instituto Evandro Chagas nos períodos de 1935-1939 e 1942-1949. Foi professor da Faculdade de Medicina do Norte do Paraná; cientista visitante do Colégio Imperial, em Ascot, Inglaterra, e professor da Universidade Federal de Minas Gerais.

Aplicou-se à pesquisas de campo no Pará a partir de 1936, a respeito de calazar e malária. Ingressou no Serviço de Malária do Nordeste, tomou parte na campanha de combate ao Anopheles gambiae (1939-1942). Os artigos publicados resultantes de suas viagens pela selva e outros locais foram marcos para o conhecimento das doenças investigadas e ainda são referências em estudos sobre essas doenças e seus parasitos. Trabalhou no Instituto de Higiene e Medicina Tropical de Lisboa (1975) e na Universidade de Carabobo, Venezuela (1976-1979); no Brasil, ingressou na Fundação Oswaldo Cruz no Departamento de Entomologia, ao lado de sua mulher, Maria José Maria Paumgartten Deane, também médica e pesquisadora, que atuou no Departamento de Protozoologia da mesma instituição. Chefiou esses departamentos e formou outros pesquisadores. Continuou a exercer suas atividades depois da sua aposentadoria por idade em 1990.

Em atividades paraprofissionais, Leônidas Deane e o também pesquisador Lobato Paraense compuseram o comitê do prêmio Samuel Barsley Pessoa durante o Congresso da Sociedade Brasileira de Parasitologia em Belo Horizonte. Foi Chefe dos Departamentos de Entomologia e do Departamento de Protozoologia, Fundação Oswaldo Cruz.

Recebeu numerosas homenagens e vários prêmios com distinção, entre os quais se destacam prêmio Oswaldo Cruz, medalha Carlos Chagas, medalha Gaspar Vianna, prêmio Moinho Santista, medalha Henrique Aragão. Dr. Leônidas Deane e Dra. Maria José Deane foram homenageados pela FioCruz com a criação do Centro de Pesquisa Leônidas & Maria Deane, em Manaus (1994); pesquisadores brasileiros e do exterior homenagearam seu nome com as denominações de várias novas espécies de insetos e protozoários, como Phlebotomus deanei, Culex deanei; Triatoma deanei, Tripanosoma leonidasdeanei e muitos outras.

Com o objetivo de melhor expor o alcance de sua importância e reconhecimento de suas atividades, segue um breve condensado do texto de Luiz Fernando Ferreira e Adauto Araújo, membros correspondentes da Academia Paraense de Ciências a respeito do pesquisador, publicado no periódico Ciência e Sociedade, Rio de Janeiro, Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, 2014 – O Professor Dr. Leônidas Deane foi um excepcional pesquisador que deixou contribuições fundamentais para o conhecimento das doenças infecciosas endêmicas no Brasil ou importadas de outros países. Dentre elas, as leishmanioses e a malária. Neste breve relato sobre Leônidas Deane, mostra-se sua importância como cientista e como formador de novas equipes de pesquisadores. Tinha cultura geral muito grande, era de uma bondade enorme, paciente, incapaz de emitir uma palavra grosseira ou de exprimir um gesto ríspido em nenhuma situação. Em suas pesquisas com malária, conta que certas pessoas no interior acreditavam que o demônio viria tirar sangue das pessoas, furar-lhes os olhos e matar todos. Narra o caso de uma mulher ter-lhe pedido que tirasse as botas para ver se tinha pés de cabra do diabo. Em outro caso, a pessoa a ser examinada ficou a tremer de medo e disse temer que o demônio explodisse com fumaça de enxofre depois de lhe tirar o sangue e em seguida iria desaparecer. Mas, depois de alguns esclarecimentos, veio a convencer essas pessoas, inclusas as crianças que estavam entre eles, que todos os agentes ali eram do Bem. Por fim, conseguiram executar seu trabalho sem mais antagonismos.

Reproduzimos o expressivo poema do professor Dr. Carlos Eduardo Tosta, da Universidade de Brasília, elaborado na ocasião da morte de Leônidas Deane, ocorrida em 30 de janeiro de 1993: Foi-se o gigante franzino / Que nos extasiava com lições de sabedoria e simplicidade / Mostrando que é possível ser erudito sem ser arrogante / E ser puro em um mundo corrompido / Foi-se o exemplo de abnegação / Que provou com sua vida que o conhecimento liberta / E que o trabalho representa / Uma fonte perene de redenção / Foi-se o mestre / Que ensinava aos mestres os segredos da vida / Que no decifrar os segredos da vida / Nos deixava mais próximos de Deus / Foi-se a alma peregrina / Ao encontro de um recanto de menos sofrimento / Para poder ensinar aos anjos / Os mistérios das espécies crípticas / E ficaram, assim, entre nós legiões de órfãos.

(Fontes:http://www.scielo.br/pdf/mioc/v88n1/vol88(f1)_5-10.pdf e https://www.researchgate.net/publication/269883062_Leonidas_de_Mello_Deane_1914-1993)