cadeira 22

Cadeira 22 - DR. GASPAR DE OLIVEIRA VIANNA

(1885-1914)

Nasceu em Belém, Pará, e, 11 de maio de 1885 e faleceu em 14 de julho de 1914. Começou a interessa-se por medicina desde seus estudos na fase de ensino secundário no Colégio Estadual Paes de Carvalho.

Em 1903, mudou-se para o Rio de Janeiro em busca da realização de seu sonho em tornar-se médico. Seu interesse o levou à descoberta da cura da leishmaniose, doença até então considerada incurável. Ainda estudante de medicina, montou um laboratório de análises clínicas no Largo da Carioca. Passou a frequentar o Hospital da Santa Casa de Misericórdia. Integrou-se por concurso ao Hospital Nacional, onde realizou variadas experiências. Foi coautor do livro Estrutura da Célula Nervosa. Em 1908, foi convidado para a chefia do Serviço de Histopatologia do Instituto Oswaldo Cruz. No período de 1910 a 1914, publicou 21 trabalhos, com relatos de descobertas nas áreas de protozoologia, microbiologia, anatomia patológica e quimioterapia.

Em sua homenagem, importantes instituições e logradouros paraenses trazem seu nome, como o Hospital das Clínicas Gaspar Vianna, o Laboratório Gaspar Viana, Escola Dr. Gaspar Vianna, a Rua Gaspar Vianna e em outros estados: Rua Gaspar Vianna do Bairro Vila Formosa, São Paulo-SP, a Escola Municipal Gaspar Vianna, Rio de Janeiro-RJ.

Foi eleito o paraense do século XX na promoção feita para a comemoração dos 25 anos da TV Liberal em que várias grandes personalidades da História do Estado, foram selecionadas e concorreram ao título, o qual foi obtido por Gaspar.

Em 1998, em pesquisa feita pela revista Médicos, do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, mediante consulta a 52 escolas médicas, 47 sociedades de especialidades, 22 Conselhos Regionais de Medicina, 20 Associações Médicas Estaduais, Conselho Federal de Medicina, Associação Médica Brasileira e Federação Nacional dos Médicos, Gaspar Vianna foi eleito um dos dez maiores nomes da medicina brasileira no século XX, ao lado de Oswaldo Cruz, Carlos Chagas, Adolfo Lutz, Rocha Lima, Euryclides Zerbini, Adib Jatene, Ivo Pitanguy.

A residência onde nasceu acolhe hoje o Colégio Dom Bosco e uma placa de pedra em homenagem ao médico está exposta no muro externo com os dizeres: Aqui nasceu o grande feitor da humanidade e mártir da ciência Gaspar Vianna.

É oportuno rememorar fatos históricos relacionados à atuação de Gaspar Vianna. O Rio de Janeiro, no início do século passado, afrontava farta propagação de doenças endêmicas que intranquilizavam a população. Diante disso, o médico Oswaldo Cruz foi nomeado por Rodrigues Alves, então
Presidente da República, para combatê-las. O Brasil gozava de uma fase de construção de ferrovias para integração de territórios distantes. Em Bauru-SP, que tinha ligação ferroviária com o Mato Grosso, ocorreu uma epidemia conhecida como úlcera brava ou úlcera de Bauru. Vários estudiosos de renome vieram a analisar a moléstia. Indicaram a Leishmania tropica como sua causa. Em 1911, Gaspar Vianna descobriu uma nova espécie desse agente, a qual denominou Leishmania braziliensis, causadora da leishmaniose cutâneo-mucosa. Em 1912, descobriu o tratamento da doença pela utilização de tártaro emético ou antimonial, que também era eficaz nos casos graves de calazar ou leishmaniose visceral, bem como era eficaz no combate contra o granuloma venéreo e a esquistossomose. Seu trabalho, publicado em alemão, teve enorme impacto no mundo. Sabe-se, hoje, que a doença é provocada por protozoários do gênero Leishmania, transmitida ao ser humano por mosquitos flebotomíneos, também conhecidos como mosquito palha ou birigui.

Aplicou-se ainda a outras pesquisas de relevo a respeito da blastomicose e outras micoses, da evolução do Trypanosoma cruzi nos tecidos animais inclusive em seres humanos. Foi pioneiro em descrever a histopatologia e a patogênese da encefalite chagásica ocorrente no estádio agudo da doença de Chagas.

Em 1909, Carlos Chagas (1879-1934) solicitou a Gaspar Vianna obter os aspectos histopatológicos da nova doença. O estudo da anatomia patológica da moléstia era necessário para comprovar seu quadro clínico e admiti-la como nova entidade patológica. Ele analisou amostras obtidas dos órgãos de dez cadáveres humanos necropsiados por Carlos Chagas. Os resultados foram publicados em 1911.

Passados mais de um século, o estudo pioneiro de Gaspar Vianna permanece como exemplo de relato científico rigoroso e ainda atual do envolvimento do sistema nervoso central na fase aguda da doença de Chagas. Além disso, sua descrição da neuropatologia da encefalite chagásica representa um raro exemplo e ainda atual de contribuição para o conhecimento de aspectos novos de uma nova doença descoberta dois anos antes, relativos ao ciclo evolutivo intracelular do Tripanossoma cruzi e à histopatologia e patogênese da invasão do sistema nervoso central causada por esse parasito, em publicação única que abordou o estudo de apenas um doente.

Faleceu em 14 de julho de 1914, aos 29 anos de idade, dois meses depois de realizar uma necropsia em que foi contaminado por material que continha bacilos causadores de tuberculose com os quais desenvolveu meningite fatal. Gaspar de Oliveira Vianna é amplamente reconhecido como um médico patologista pesquisador muito jovem, mas que figura ao lado de relevantes nomes da medicina brasileira. Sua descoberta relativa ao tratamento da leishmaniose tem ajudado a salvar milhões de pessoas por todo o mundo.

(Fonte: Joffre Marcondes de Rezende, http://books.scielo.org/id/8kf92/pdf/rezende-9788561673635-43.pdf)