cadeira 29

Cadeira 29 - DR. LUIZ VENERE DÉCOURT

(1911-2007)

Nasceu em Campinas, São Paulo. Formou-se pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Por essa faculdade alcançou os títulos de doutor em medicina e de professor livre-docente. Tornou-se professor titular de Clínica Médica, Departamento de Clínica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, em que lecionou desde 1950 até 1981. Neste último ano, ao se aposentar compulsoriamente aos setenta anos de idade, tornou-se professor emérito da Universidade de São Paulo. Em 1968, comandou a equipe responsável pelo primeiro transplante cardíaco da América Latina e um dos primeiros do mundo, realizado por Euríclydes de Jesus Zerbini e sua equipe.

Foi autor dos livros Lições de Patologia Cardiocirculatória (1945), Biópsia do Coração Humano (1965), Doença Reumática (1969) e Medicina Preventiva em Cardiologia (1988). Publicou 324 artigos científicos em revistas nacionais e internacionais; enunciou 306 conferências científicas no Brasil e no exterior (Argentina, Bélgica, Equador, França, Itália, Peru e Venezuela).

Foi membro de quarenta sociedades científicas nacionais e vinte e uma estrangeiras. Recebeu 34 prêmios de sociedades médicas e do governo. Dentre esses, destacam-se o prêmio Alfred Jurzkwoski, da Academia Nacional de Medicina, o prêmio Astra de Medicina e Cirurgia, o prêmio Moinhos Santista em Ciências da Saúde e o prêmio Troféu Guerreiro da Educação.

Manteve um curso de especialização em cardiologia durante vinte anos e curso de pós-graduação durante dez anos. Pelo seu serviço de cardiologia passaram 897 estagiários, com pelo menos um ano, do Brasil e da América Latina. Com seu entusiasmo incentivou os jovens, mostrando-lhes caminhos com sua visão de futuro. Foi disciplinador, compreensivo e sensível, intolerante com maldades, falácias, preconceitos e ignorância. Pregou a necessidade de ensinar com palavras e exemplos. Foram seus principais objetivos – a ciência, o ensino e a pessoa humana. Foi um agregador, um formador de equipes. Acolhia livremente a discussão de ideias, tinha enorme compreensão do comportamento humano, aceitava suas limitações e diferenças.

Sempre foi um estudioso disciplinado, mantinha fichas pessoais dos artigos que lia. Tinha profundos conhecimentos não só de medicina, mas de música, matemática, história e artes em geral. Sempre valorizou a cultura geral, não como um luxo intelectual, mas como precioso instrumento de comunicação entre as pessoas e, sobretudo, de aproximação entre médicos e pacientes.

Nos últimos anos de suas atividades na Universidade de São Paulo, ao lado do Prof. Euríclydes Zerbini, criou as disciplinas de Cardiologia Clínica e de Cirurgia Cardíaca da Faculdade de Medicina. No Hospital das Clínicas, criaram os Serviços de Tratamento Clínico e Cirúrgico das Cardiopatias, os quais, em 1977, resultaram, na fundação do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, no qual Décourt exerceu o cargo de Diretor Científico de 1978 até sua aposentadoria em 1981.

Em 2000, coroaram sua carreira acadêmica duas distinções especiais: o título de Doutor Honoris Causa da Universidade de Coimbra, o qual atestou que seus ensinamentos e suas crenças deram frutos e o prêmio Troféu Guerreiro da Educação, oferecido pelo Centro de Integração Empresa-Escola do Estado de São Paulo e pelo jornal O Estado de S. Paulo. Recebeu também os títulos de Doutor Honoris Causa de universidades do Rio Grande do Sul e do Paraná.

Seu livro A Didática Humanista do Professor (2005) revela ao público, médicos ou não, aspectos da medicina em sua visão ética e humanista, voltados ao chamamento da consciência de cada aluno dirigido para a importância da relação médico-paciente, que deve prevalecer sobre a tecnologia e a ciência, que importa conceber integralmente o ser humano em suas relações com os valores científicos, afetivos e morais. Segundo declaração de um ex-aluno, o que impressionava é que ele jamais se fixava apenas na doença e no tratamento, mas prestava grande atenção na questão humana, no contato pessoal com o paciente e preocupava-se com seus sentimentos, suas ansiedades e seus sofrimentos.

(Fonte: Protásio L. da Luz: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0066-782X200700140 0012)