Discurso de Entrega do Cargo de Presidente da

Academia de Medicina de Brasília

Janice M. Lamas Brasília, 07 de Abril de 2014.

 

Ao cumprimentar o Ilm° Acadêmico Dr. José Leite Saraiva, Presidente da Federação Brasileira das Academias de Medicina, cumprimento a todos os presentes neste auditório. Venho hoje, ao encerrar esta gestão, agradecer a todos que colocaram seu nome e seu prestígio na discussão de ideias para a glória da Academia de Medicina de Brasília.

Os registros de todas as sessões plenárias ocorridas nos 2 últimos anos, degravadas, demonstram a participação dos acadêmicos e de outros valorosos e reconhecidos nomes da Medicina, Juristas ilustres e membros da sociedade em geral. Constam dos Anais desta instituição, da qual tenho orgulho e honra de pertencer.

Discutimos com integrantes do Ministério Público, com Médicos e Membros de Conselho de Ética e Bioética, questões médicas e jurídicas que envolvem a terminalidade da vida, no sentido de analisar os conflitos que envolvem o princípio da dignidade humana ao morrer, e apontar soluções já que as mudanças propostas para o novo Código Penal Brasileiro incluem uma nova legislação sobre a ortotanásia.

No dia Mundial de Combate ao Uso de Drogas, colocamos em debate as ações preventivas mais abrangentes e o impacto das ações de repressão, prioritariamente assumidas, tanto pelo governo como pela sociedade. Muitas questões estão a exigir respostas, agravadas pela crescente escalada do uso de drogas na atualidade.

A participação de promotores do MPDF, de Ministros e técnicos do Tribunal de Contas da União enriqueceram o debate por apresentarem uma auditoria operacional que avaliou as ações da Política Nacional sobre drogas no Ministério da Saúde, Desenvolvimento Social e da Justiça.

Tivemos a honra de ouvir a Ministra Eliana Calmon no debate conduzido pela Acad. Lucimar Canon sobre a Judicialização da Saúde em que participou o Conselho Federal de Medicina, o Sindicato dos Médicos de São Paulo e a Promotoria da Justiça de Defesa de Saúde do DF.

Discutimos como as violações do direito à Saúde por parte do estado e a crescente demanda de ações judiciais poderiam ser conduzidas diante do pouco preparo dos magistrados para avaliar com propriedade a pertinência da ação judicial e dos recursos limitados destinados à saúde.

Nesta gestão colocamos em debate ações que poderiam ter impacto positivo e ampliar a atenção à saúde em áreas pouco assistidas e se tais ações seriam eficazes para modificar a desigualdade de distribuição de médicos no País, com a participação do Programa de Valorização de Atenção Básica do M. Saúde PROVAB e do Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Advertimos, um ano antes do lançamento de “Mais Médicos” pelo Governo Federal, que alterar a forma de revalidar diplomas de cursos da Medicina para favorecer a “importação“ de médicos de formação duvidosa, sob a condição de atuarem em áreas pouco assistidas, traria novos e graves problemas para o próprio sistema de saúde e, principalmente para a população.

A profissão de carreira do médico, com possibilidade de educação continuada e condições mínimas de trabalho para a prática da medicina, foram apontadas como fatores determinantes para a solução destes problemas.

O subfinanciamento do sistema de Saúde pública, a pouca regulação e a má qualidade da gestão dos recursos, também foram temas de sessões plenárias com a participação do Presidente dos Sindicato dos Médicos de Brasília – Acad. Gutemberg Fialho do Secretário Adjunto da Secretaria de Saúde, Dr.  Miziara e pesquisadores do IPEA, do Ministério da Saúde e da Agência Nacional de Saúde Suplementar.

De muito brilho foi a palestra sobre Terminologia Médica do Acadêmico Simônides Bacelar que demonstrou com muitos e diversos exemplos porque clareza, objetividade e concisão são os pilares básicos da redação científica.

Na sessão Solene de Posse do Título de Eméritos fomos agraciados com a palestra do ilustre Acadêmico Antônio Márcio Lisboa: “O Modelo Holístico da Medicina”, em que acentuou a importância de o médico ter nobreza de caráter, propósitos elevados, consciência do bem e do mal, do certo e do errado.

Em outra também memorável palestra em Sessão Solene de Posse dos Novos Acadêmicos, o presidente do Conselho Federal de Medicina, Dr. Roberto d’Avila, disse, entre muitas considerações, ser relevante resgatar a medicina e para isto é necessário que sejamos românticos. Toda ação romântica traz embutida na própria ação a sua recompensa.

O Princípio da Solidariedade e Cooperação,discutido de forma crítica pelo catedrático Volney Garrafa, figura importante no cenário de Bioética Nacional, levou a todos a refletir sobre as diferenças entre compaixão e utilitarismo, no sentido de diminuir as agudas disparidades socioeconômicas no mundo de hoje.

Admiramos a experiência extremamente corajosa e de grande domínio técnico do Acadêmico Ruy Archer em sua marcante cirurgia de Isquiópagas como contribuição às Ciências Médicas.

E em sequência, o Acadêmico e Pesquisador Luis Augusto Casulari demonstrou a importância de se debater a contestação de dogmas para a aceitação de novos conhecimentos, ao apresentar resultados de suas pesquisas sobre a prolactina.

Nos caminhos de Van Gogh, o admirável trabalho artístico do Acadêmico Armando Bezerra, com a sequência das belas obras de Van Gogh, demonstrou quebra de um paradigma: a grande contribuição que um artista portador de transtorno mental pode dar à sociedade.

Finalmente, em estado de graça, ouvimos o Ministro Ayres Brito falar sobre Direito e Ética, como último evento desta Gestão.

Muitos exemplos temos de força e obstinação nesta Academia. Cito o último, o qual me encheu de alegria: a publicação no Diário Oficial da União, na qual foi declarada pelo Ministro de Justiça, Dr. Eduardo Cardoso a utilidade pública da Federação Brasileira das Academias de Medicina.

Esta conquista foi mérito do trabalho incansável do Acadêmico José Leite Saraiva, como Presidente da Federação. Desejo à nova direção da Academia de Medicina de Brasília, este mesmo vigor para realizar seus projetos. Para os senhores que hoje tomam posse como diretores da Academia de Medicina de Brasília, sob a Presidência do Acadêmico Edno Magalhães, transcrevo a exortação feita pelo Padre Antônio Vieira no Sermão que proferiuna Capela do Colégio, diante de novos missionários da Companhia de Jesus, em que disse “Que um raio do fogo divino alumie os nossos entendimentos, que inflame as nossas vontades, que excite, que anime, que afervore, que acenda os nossos corações. Fortalecei e ressuscitai, onde estiverem mortos, aqueles vivos desejos, para que como verdadeiros soldados da Companhia de Jesus, consigamos o felicíssimo e bem aventurado fim adonde chegam os escolhidos”.

E acrescenta o jesuíta “que para empreender grandes ou pequenas obras, não basta idealizá-las depois do sol saído. Se não madrugastes antes do sol e esperastes que o sol saísse, tardastes”.

No sermão do Santíssimo Sacramento ele reforça a necessidade de união, porque se na desunião somos menos, unidos seremos muito mais. E por que? Porque assim como é natureza da união de muitos fazer um, assim é milagre da união de poucos fazer muitos.

Ensina que o fim de Cristo no Sacramento não é só unir-se conosco, senão unir-nos entre nós.

O que ele aponta e declara neste sermão são as formas de desunião: O que somos? Desunidos! Católicos no que professamos e hereges no que fazemos, católicos de boca para com Deus e hereges de coração para com os homens, católicos da fé ehereges da caridade, enfim católicos do sacramento e hereges da comunhão”

Finalmente, atando o fim de todo o discurso com o princípio, ele suplica àquele que foi só unidade e união, que uniu extremos tão distantes como homem e Deus, que ajude a vencer as repugnâncias de nossos afetos, abrandai a dureza de nossos corações, dobrai a resistência de nossas vontades e quebrantai a rebeldia de nossos vãos e mal entendidos juízos, para que unidos possamos nos defender, unidos nos conservemos.

Grande cerimônia, Senhores confrades e confreiras, é a que nos chama hoje a este lugar. Que tenham o sucesso que esperamos. Vieira no sermão pelo Bom Sucesso das Nossas Armas, afirma que o sucesso da consolidação do Reino está em empenhar todo o Reino em corpo e alma, e que a alma, no juízo dos que adiantam os olhos ao futuro, importa mais que tudo.

A alma dos reinos, principalmente em seus princípios, é a opinião. Para Vieira, dificultosa é a empreitada que não só conquista as forças de um reino, senão os juízos do mundo. Salomão, o rei mais sábio, dizia que melhor era o bom nome que o óleo com que se ungiam os reis – porque a unção pode dar reinos, a opinião pode tirá-los.

De tal sorte que numa campanha ou empreitada, a causa toca a todos em particular, e no mais particular de cada um.

Não desanimem se não houver reconhecimentos dos seus feitos.

No Sermão de Terceira Quarta-Feira de Quaresma, Vieira aconselha aos que se sentem beneméritos e mal despachados dizendo que o prêmio das ações honradas, elas o têm em si e o levam logo consigo; nem tarda, nem espera requerimentos, nem depende de outrem; são satisfações de si mesmas. Quem fez o que devia, devia o que fez e ninguém espera paga de pagar o que deve. Se trabalhei, se venci, fiz o que me devia a mim mesmo e quem se desempenhou de tamanhas dívidas, não há de esperar outra paga.

Quem mais é e, mais pode, mais deve. Se vossos serviços são mal premiados, baste-vos saber que são bem conhecidos e assentados no juízo das gentes.

Pense nas ponderações de Vieira, ao afirmar no Sermão de Santo Antônio que luzir português entre portugueses e luzir com a própria luz é coisa muito dificultosa naquela terra. Com a luz alheia já viu lá luzir alguns, mas com a própria, nem Santo Antônio.

Fizemos, com a participação de todos, sessões extraordinárias para votar mudanças do estatuto e do regimento interno no tocante às condições para que acadêmicos titulares possam tornar-se eméritos, o que possibilitou a entrada de novos acadêmicos. Consultamos a todos da conveniência da Academia de Medicina de Brasília permanecer na sede do sindicato ou integrar a AMBR.

No Sermão de São Pedro, Vieira lembra que no Evangelho Segundo São Mateus, Cristo perguntou que diziam dele os homens. Perguntou para que os senhores que mandam no mundo se não desprezem de perguntar. E o jesuíta continua “se pergunta a Sabedoria divina, porque não perguntará a ignorância humana? Quem não pergunta não quer saber, quem não quer saber quer errar. Deus guie a nau por onde estes forem os pilotos. Antes de se fazerem as coisas há-se de temer o que dirão, depois de feitas há-se de examinar o que dizem. Uma coisa é o acerto, outra o aplauso. A boa opinião, de que tanto depende o bom governo, não se forma do que é, senão do que se cuida; e tanto se devem observar as obras próprias como respeitar os pensamentos e línguas alheias.

E assim, meus queridos confrades e confreiras, encerro esta gestão agradecendo os acadêmicos desta diretoria que entraram nesta batalha com corações amorosos.

Para Platão, um exército de namorados é invencível. No sermão do Bom Sucesso das Armas, Vieira diz que os homens de inferior condição, ainda que sejam valorosos, pelejam sós; os sábios sempre, pelejam acompanhados, porque pelejam com a lembrança dos maiores, que é a melhor companhia.

Agradeço ao Sindicato dos Médicos de Brasília pela renovação do Contrato de Comodato que permitirá o funcionamento da Academia de Medicina na sua sede, por mais 2 anos.

Agradeço a Renata Francisco, que muito bem secretariou os trabalhos desta entidade.

Agradeço ao Laboratório Sabin, ao citar os nomes de suas sócias proprietárias, Dra. Janete Vaz e Sandra Costa, por patrocinarem este belo coquetel que ofereceremos aos senhores ao término da Sessão Selene de Posse.

Obrigada a todos.

Saluteverites!