Discurso do Presidente da Academia de Medicina de Brasília,

Acadêmico Renato Maia Guimarães, na Entrega da Medalha  “Grandes Médicos de Brasília”

22/10/2016

No quadro de Rafael, A escola de Atenas, que ilumina o museu do Vaticano, estão os homens que brilharam na antiguidade Helênica. Não faltam empreendimentos para identificar grandes nomes da história humana. É também objetivo da Academia Real das Ciência da Suécia com o Prêmio Nobel. Este tipo de iniciativa contrabalança a irresistível tendência do mundo para o esquecimento. Aqui no Brasil o banimento de nomes da memória coletiva é quase regra. Para a maioria daqueles que se destacaram sobra apenas um retrato na sala, que não sobrevive à segunda geração.

Retornando ao nascimento de Brasília, não se pode permitir que aqueles construíram a medicina dos candangos sumam na poeira da memória. A medicina não é uma atividade pronta, conclusa. Está em permanente construção. É necessário lembrar quem dela participou ativamente, não, necessariamente, batizando escolas, centros de saúde ou ruas, até porque as vias da capital são conhecidas por siglas modernistas que anteciparam a escrita minimalista e inculta da comunicação eletrônica.

Não estamos aqui reunidos para brindar os melhores, pois seria uma atividade de interesse majoritariamente mercantil, confundida com os mais conhecidos. Confesso-lhes o constrangimento anual que me sufoca ao ler a lista dos agraciados com a Medalha da Inconfidência, entregue no dia 21 de abril em Ouro Preto. Destinada a honrar grandes brasileiros, terminou sendo colocada no peito do líder do MST. Nesta noite não homenageamos amigos ou companheiros de opinião. Nós da Academia de Medicina de Brasília demos as mãos à Associação Médica, ao Conselho Regional de Medicina e ao Sindicato dos Médicos para, acima das nossas especificidades, criar a condecoração Grandes Médicos de Brasília. A lista poderia ser maior, mas as próximas edições hão de corrigir eventuais injustiças. Acima das instituições que representamos, os nomes desses grandes médicos foram escritos pelas mãos de todos os médicos do Distrito Federal.

Se mencionei inconfidência, falo agora em tom confidencial para tardiamente reagir às imerecidas críticas que a medicina de Brasília já recebeu, notadamente de professores doutores. Os grandes que aqui estão seriam grandes em qualquer estado brasileiro, alguns em qualquer hospital do mundo.  Digam-me, os detratores alhures, em que lugar existe uma Associação Médica mais ativa que esta que nos acolhe, um Conselho de Medicina mais correto e eficiente ou ainda um sindicato mais combativo e vitorioso? Que outra unidade do SUS atende até trinta por cento além da sua população, devido a pacientes oriundos de estados vizinhos que se não hesitam em apontar o dedo para o Distrito Federal e criticar? Em que outras capitais os professores da universidade federal cumprem integralmente a dedicação exclusiva e não correm para consultórios privados onde assinam receitas com o carimbo de professor doutor ou titular? Aqui constituem exceção. Reconheço que a ainda juventude da capital do Brasil talvez a envolva com um manto de timidez, sem com este argumento pretender defender aqueles que se dizem médicos e que atualmente frequentam as manchetes dos jornais.

Nesta noite não reverenciamos profissionais, pois a medicina é mais do que isso. É um compromisso com fazer o bem. Lembro-os aqui de uma meritória conduta prevalente entre americanos que enriqueceram: “learn, earn and serve”. Aprender, ganhar e servir. Constitui a base para que fortunas sejam direcionadas à universidades, hospitais e instituições que promovam o bem-estar e a saúde. Os grandes médicos, hoje homenageados, não têm fortuna para distribuir, mas serviram de outras formas: ensinando, assumindo funções públicas muitas vezes ingratas, realizando trabalho voluntário e, mais importante, dando exemplos. Daí esta homenagem não ser por um fato, uma ação relevante. Hoje reverenciamos a vida desses homens e mulheres.