Discurso de Despedida (Biênio 2020 – 2021)

 Acad. Marcus Vinicius Ramos

 

Senhora e senhores componentes da mesa, Dr. Leonardo Pitta, representando a Dra. Marcela Augusta Montandon Gonçalves, presidente do CRM–DF, Dr. Marcos Gutemberg Fialho da Costa, presidente do SindMédico e da FENAM, Dr. Nasser Sarkis, representando o Dr. Ognev Cosac, presidente da AMBr. Demais autoridades presentes, convidados, colegas e pares da Academia de Medicina de Brasília, sejam bem vindos.

Quis a generosidade e confiança dos meus pares que estivesse à frente dos destinos da nossa instituição por dois mandatos consecutivos. Retorno a este auditório e a esta tribuna para agradecer essa honra e distinção.

Somos todos iguais em direitos e deveres, saberes e práticas em nossa Academia, mas acredito que a excelência individual também precisa ser reconhecida – não por privilégio, mas por mérito. Permitam, portanto, que minhas primeiras palavras sejam endereçadas à família e aos amigos dos confrades que se foram ao longo desses últimos quatro anos.

Já não estão mais conosco o nosso fundador e 1º presidente da Academia, o Professor Antônio Márcio Junqueira Lisboa, assim como seu colega de especialidade, Oscar Mendes Moren, ambos expoentes da pediatria em nossa cidade. Também se foram o Prof. Emérito da UnB, Odílio Luiz da Silva, a quem tive a honra de suceder em sua cadeira, e o neurocirurgião Paulo Melo. Além deles perdemos o ex-presidente Renato Maia e o nosso até então único membro honorário, Jofran Frejat, tantas vezes secretário de saúde do Distrito Federal. Nesta longa lista infelizmente fazem agora parte os nomes dos confrades Jair Evangelista da Rocha, José Carlos Quinaglia e Silva, Geraldo Damião Secunho e Mário Pedro dos Santos. Mas a mortalidade física não se mistura com a  acadêmica: esses confrades nunca morreram completamente – nos deixaram seus livros, seus escritos, suas ideias e seus ideais. Seus nomes serão honrados e suas memórias viverão entre nós: a eles seremos eternamente gratos.

Sou igualmente grato aos acadêmicos aqui presentes. Sem a efetiva e profícua participação dessa “comunidade de estudiosos” dedicada à descoberta, preservação e comunicação do conhecimento junto à Presidência, a Academia não teria como levar a bom termo suas atividades, já bastante prejudicadas pela emergência sanitária: palestras e seminários não seriam realizados, livros e Anais não teriam sido organizados, editados, revistos e publicados, nossa modesta (mas imprescindível) atividade social simplesmente não teria existido. A Presidência que ora se despede agradece esse apoio da mesma maneira que o faz à Diretoria e à Sra. Renata, nossa secretária: de coração.

Não posso deixar de agradecer também às demais entidades coirmãs. À Associação Médica de Brasília, tanto pela parceria intelectual – demonstrada pela participação assídua de nossos membros em suas publicações e seu programa de educação continuada – quanto pela material, manifestada pela cessão de uma de suas salas para nosso uso exclusivo. A essa parceria acrescento a gentileza e a fidalguia de seus dirigentes para com a Academia e seus membros.

Não menos fraterna foi nossa relação com o SindMédico e com o Conselho Regional de Medicina. Atuamos junto aos poderes constituídos, fiscalizando projetos de interesse da nossa atividade profissional; lado a lado divulgamos o papel e importância das nossas entidades aos estudantes de medicina da nossa cidade; unidos comemoramos o trigésimo aniversário de fundação da nossa academia e o cinquentenário de graduação da Primeira Turma de Médicos formada pela Universidade de Brasília.

Contamos também com o inestimável apoio institucional da Organização Pan Americana de Saúde (OPAS), da Secretaria de Estado da Cultura e da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro, assim como do Laboratório Sabin para a realização de eventos pontuais, que nem por isso foram menos importantes.

Mas como e por que a Academia de Medicina de Brasília, uma instituição que conta hoje com apenas 37 membros titulares e 14 eméritos,  ombreia-se a entidades tão importantes como as que acabei de citar?  

Respondo por todos nós:

“Porque pensamos naqueles que não têm acesso ao tipo de educação que tivemos, muito menos às inovações tecnológicas que fazem parte do nosso cotidiano.

Porque fazemos parte daqueles que detêm um conhecimento que serve não só para prevenir, cuidar e tratar doenças, mas também para lutar contra a pobreza e a injustiça.

Porque compreendemos que nossa população mais humilde conhece e entende sua própria realidade melhor do que nós.

Porque entendemos que os deserdados pela fortuna, mais do que a nossa empatia, merecem o nosso respeito.” 1

Porque como ensinava William Osler, a medicina é a mais humana das profissões e mesmo que seu progresso possa ser às vezes lento e errático, somos os únicos profissionais com potencial para libertar a humanidade do seu sofrimento físico e mental.

“Porque por meio da vacinação, saneamento, anestesia, bacteriologia, imunologia, virologia, biotecnologia, terapia genética informática, e tantos outros avanços, a medicina deu início a uma revolução que já dura mais de 100 anos. Uma revolução que nos aproxima cada vez mais do dia com o qual sonhamos, quando não haverá mais uma morte desnecessária, nem sofrimento, nem tristeza, nem dor.

Porque temos plena consciência que, apesar de toda a ciência e tecnologia que trazemos conosco, será sempre a nossa humanidade, cuidado e preocupação para com o paciente que determinará a medida final do nosso sucesso.” 2

Porque sabemos que a saúde é direito de todos e dever de Estado.

E porque juntos somos mais fortes.

São essas as razões que justificam a nossa existência e nossa presença nessa cerimônia, apesar da diversidade que existe na maneira em que cada um de nós pratica a sua profissão.

Diversidade que abrange tanto a nossa atividade individual em consultórios particulares quanto a que exercemos em grupo, no serviço público. Diversidade nas especialidades, nos locais de atuação, nas idades, nas origens e nos estratos sociais.

Alguns com grandes sonhos, outros com sonhos mais modestos. Alguns procurando apressar as mudanças, outros favorecendo uma evolução mais lenta. Alguns interessados em saúde pública, outros na sua legislação. Alguns interessados na educação, outros na viabilidade da prática.

Esta noite ocupo esta tribuna pela última vez como presidente da Academia de Medicina de Brasília. Lamento que não possam subir ao palco e apreciar a visão que tenho deste auditório: meus confrades unidos a representantes de outras instituições médicas, a colegas de todas as idades e especialidades, a professores e alunos, a familiares e amigos.

Obrigado a todos vocês! Obrigado pela amizade, pelo encorajamento, pela confiança. Obrigado pelo amor à nossa instituição, pelo respeito à sua história e pelo otimismo no seu futuro. E especialmente obrigado por terem me permitido representar os mais respeitados médicos da nossa cidade por tanto tempo.

Ao confrade Etelvino e à nova Diretoria, boa sorte e um proveitoso trabalho!

Brasília, DF, 15 de março de 2022

1 - ZEWDIE, Debrework.  Disponível em <https://www.medscape.com/slideshow/commencement-

speech-moments-6006777#6>. Acessado em 14/03/2022.

2 -  CUTLER, Charles. Disponível em <https://www.pamedsoc.org>. Acessado em 11/03/2022.