PALAVRAS DA ACADÊMICA JANICE MAGALHÃES LAMAS
 AO ASSUMIR A  PRESIDÊNCIA DA ACADEMIA DE MEDICINA DE BRASÍLIA – AMeB, 

NO DIA 03 DE ABRIL DE 2012 NA SESSÃO SOLENE DE POSSE DA DIRETORIA BIÊNIO 2012 – 2014, NO AUDITÓRIO DO CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA – CFM 

  Excelentíssimo Senhor Presidente da Academia de Medicina de Brasília, Professor Doutor José Leite Saraiva, excelentíssimas autoridades que compõem a mesa, Senhores Acadêmicos, confreiras e confrades, autoridades aqui presentes e representantes, queridos familiares, caros amigos, meus senhores, minhas senhoras.


A todos: Saluteverites! que significa saudar desejando saúde!
 

Venho ocupar com orgulho e sobretudo com humildade a presidência desta Academia de Medicina de Brasília, como 1ª mulher a assumir este cargo, desde sua fundação em 1989, época em que 5 doutores ilustres da medicina: Dr. João da Cruz, Dr. Laércio Moreira Valença, Ítalo Nardelli e Francisco Pinheiro da Rocha, liderados por Dr. Antônio Márcio Junqueira Lisboa, seu 1º presidente, se reuniram a convite do Dr. Lisboa, fundaram esta academia e elaboraram o regimento e o estatuto desta Instituição.

A finalidade maior desta associação, sem fins lucrativos, desde sua criação, foi contribuir para o progresso de medicina, em colaboração com as autoridades constituídas, para o benefício da saúde da coletividade e do ensino médico.

A vida acadêmica, exercida conforme seu regimento e estatuto, assim como os trabalhos científicos, frutos da discussão entre os pares, segmentos da medicina e sociedade civil, são os princípios básicos desta entidade, muito bem registrados em seus anais, organizados e editados sob a presidência do professor José Leite Saraiva, meu antecessor, que durante sua gestão, consagrou-a como de utilidade pública por ato da Câmara Legislativa do Distrito Federal.

Dizer o já dito a respeito da Academia de Medicina de Brasília é supérfluo.

Neste discurso que hoje sou levada a fazer, dizer o que ainda não esteja dito a respeito da grande vocação desta academia é muito difícil. Verdadeiramente me vejo embaraçada no concurso das obrigações de reverenciar àqueles que fundaram e fizeram crescer esta instituição porque são todas tão grandes, que cada uma pediria o discurso todo. Para não errar, aconselho-me com Padre Antônio Vieira, jesuíta do século XVII, com a grandeza de seus sermões, os quais nos últimos 10 anos constituem minha leitura de toda noite.

Vieira explica porque é tão difícil dar novidade ao já conhecido. A razão verdadeira e que não admite outra é porque todas aquelas estradas por onde se pode caminhar seguramente estão tão batidas e debatidas que ninguém pode pôr o pé, senão sobre pegada alheia. Assim, me espelhando em Vieira, posto que reconhecendo minha pobreza, coloco neste discurso as palavras do professor Saraiva, em relação a esta instituição, que com tanto e muito mais conhecimento e sabedoria o fez para este auditório.

Por isso peço, um julgamento indulgente, aos ouvintes.

Como uma colcha de retalhos, este discurso foi tecido com as palavras e a argumentação do grandioso Jesuíta, para este público de doutores, do século XXI, para o qual tenho a honra de me dirigir.

Ainda que, segundo a boa cronologia, seus sermões sejam de mais de 400 anos, bem se aplicam nos tempos atuais.

Esta equipe, que hoje assume a Academia de Medicina de Brasília, sob minha presidência, tem os ideais renovados daqueles 20 que a fundaram em 1989.

No sermão da Dominga Vigésima Vieira considera que assim como é grande dificuldade haver de representar majestades, assim é muito dificultoso e arriscado o acerto desta grande representação. Fácil no que toca ao poder, mas no mandar e fazer muito dificultoso e de poucos. A ostentação e a execução do poder são atos fáceis. Porém, o bem mandar e o bem fazer a todos são dificultosos porque requerem muita arte, muita sabedoria, muita proporção, muita regra. Fulminar raios, estremecer o mundo com trovões e todas as violências e danos que causam os raios, é segundo Vieira, fácil ao poder em quem abusar dele. Mas, por outro lado, adverte que meter o bastão e amansar rebeldias e reduzir a que vivam conforme a razão, esta é a dificuldade grande em toda terra, a obrigação e o ofício dos que representam a imagem de César.

Assim, no sermão da 20ª Segunda Feira, Vieira afirma que não há outro meio, certo e seguro, de se conservarem na inteira representação dos pares, os que, por mercê e autoridade do cargo, na verdadeira e exata observância de seus atos, verem-se, comporem-se e retratarem-se em seus regimentos como em espelhos. Isto é o que afirmamos hoje, ao assumirmos esta Academia de Medicina: respeitar e seguir o estatuto e o regimento desta instituição.

E bem, como adverte Vieira, que enquanto observarem as ordens de seu regimento serão os representantes de César, imagens de César e, pelo contrário, no ponto em que se não conformarem com elas, perderão a semelhança, a figura e o ser de imagens suas.

Resta agora, como no sermão Histórico e Panegírico, pedir graças, para que saibamos aproveitar delas. E como pedir graças pelos anos futuros? Viera nos ensina neste sermão que o melhor modo de pedir graças é agradecer. Assim como o ingrato só pela ingratidão perde o benefício passado, assim o agradecido só pelo agradecimento solicita e alcança o futuro.

Agradecer aos queridos confreiras e confrades que colocaram seu nome e seu prestígio nesta nova diretoria da Academia de Medicina de Brasília, com a disposição de discutir idéias e realizar projetos, tendo por foco a educação continuada da medicina e seu exercício qualificado.

Não caberia aqui, neste discurso de posse, discorrer sobre o extenso currículo destes ilustres acadêmicos, para não entediar o auditório, porém tenho a obrigação de pelo menos citá-los para fazer justiça às suas presenças, neste dia.

Inicio agradecendo ao acadêmico Dr. Luiz Fernando Galvão Salinas, que irá ocupar o cargo de vice-presidente da Academia e membro da Comissão de Ética e Bioética, que foi ex-presidente do Conselho Regional de Medicina, ex vice-presidente da Associação Médica de Brasília .

Ao acadêmico Dr Edno Magalhães, no cargo de 2o Vice-Presidente, Professor Mestre e Doutor, Diretor do Departamento Científico da Sociedade Brasileira de Anestesiologia (2010) e Professor Pesquisador Associado da UnB.

Ao acadêmico Dr Iphis Tenfuss Campbell, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia, ex-professor da UNB e ex-diretor do Hospital Universitário de Brasília, para o cargo de Secretário Geral e suplente do Conselho Fiscal.

A acadêmica Dra Izelda Maria Carvalho Costa, Professora Adjunto de Dermatologia da UnB, editora chefe dos Anais Brasileiros de Dermatologia e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica, para o cargo de 1º Secretário e suplente do Conselho Fiscal.

Ao acadêmico Dr José Ulisses Manzinni Calegaro, Diretor, há 20 anos, da Medicina Nuclear do Hospital de Base de Brasília e diretor do Grupo Nucleus das Unidades de Medicina Nuclear do Distrito Federal, para o cargo de 2º Secretário e suplente do conselho Fiscal.

Ao acadêmico Dr Jair Evangelista da Rocha, Pediatra, há 40 anos, da Secretaria de Saúde, dos quais por 16 anos exerceu a Chefia da Unidade de Pediatria, Presidente da Comissão de Residência Médica em Pediatria e um dos fundadores do Hospital da Criança, no cargo de Diretor Financeiro da Academia e membro da Comissão de Avaliação das Credenciais dos Candidatos à Academia de Medicina.

Ao acadêmico Dr Marcus Gutemberg Fialho da Costa, atual presidente do Sindicato dos Médicos de Brasília, Médico e Advogado com pós-graduação em Direito Médico, Ginecologia-Obstetrícia e Medicina do Trabalho, no cargo de Diretor Financeiro Adjunto.

A acadêmica Dra Regina Candido Ribeiro dos Santos, Professora da Escola Superior das Ciências da Saúde do DF, Pesquisadora Associada da UnB e orientadora da Pós-Graduação de Faculdade das Ciências da Saúde da UnB, no cargo de Diretora de Patrimônio e membro da Comissão de Ética e Bioética.

Ao acadêmico Dr. José Paranaguá de Santana, Gerente do Programa de Cooperação Internacional da Opas no Brasil e Coordenador do Núcleo de Estudo em Bioética e Diplomacia em Saúde da Fiocruz/UnB, no cargo de Diretor de Tecnologia de Informação e Comunicação e membro da Comissão de Avaliação das Credenciais dos Candidatos à Academia de Medicina.

A acadêmica Dra Lucimar Rodrigues Coser, ex-Representante do Ministério da Saúde no Conselho Nacional de Saúde, ex-Presidente do Comitê de Ética da OPAS, em Washington e Chefe do Núcleo de Judicialização da Secretária de Saúde do DF, no cargo de diretora Cientifica e membro da Comissão de Eventos.

A acadêmica Dra Mouranilda Tavares Schleicher, Coordenadora do Departamento de Hipertensão Arterial da Sociedade Brasileira de Nefrologia/DF, Chefe da Unidade de Nefrologia do Hospital de Base e ex-professora da Faculdade de Medicina da Escola Superior das Ciências da Saúde, no cargo de Membro de Comissão Científica.

Ao acadêmico Dr Álvaro Valentim Sarabanda, Professor da UnB de Cardiologia e Coordenador da Unidade de Arritmias do Instituto do Coração DF e do Ensino Médico do Instituto de Cardiologia, no cargo de membro da Comissão Científica.

Ao acadêmico Dr Renato Ronald Cardoso, Presidente da Sociedade de Alergia e Imunopatologia , Professor Titular em Alergia e Imunopatologia pela Faculdade de Medicina do Planalto Central, no cargo de membro de Comissão Científica.

Ao acadêmico Dr Procópio Miguel dos Santos, professor da faculdade de Medicina do Distrito Federal, professor orientador e pesquisador associado da Faculdade de Ciências da Saúde da UnB, Coordenador de Residência Médica de Oftalmologia do HBDF, como membro da Comissão de Ética e Bioética.

Ao acadêmico Dr Renato Maia Guimarães, Membro da Diretoria da International Association Gerontology and Geriatric, Coordenador de Ensino e Pesquisa em Saúde do idoso da Escola Superior das Ciências da Saúde e Ex-professor da UnB, como membro do Conselho Fiscal.

Ao acadêmico Dr João Eugênio G. de Medeiros, Ex-professor da UnB, Presidente da Sociedade Brasileira de Retina e Vítreo durante 2 gestões, Mérito Oftalmológico da Universidade de Cambridge – Londres, como membro do Conselho Fiscal.

Ao acadêmico Dr Francisco Floripe Ginani, ex-Professor de Medicina da UnB, ex-Presidente da Academia de Medicina de Brasília e ex-Presidente da Sociedade Brasileira de Coloproctologia, para ocupar a cadeira de Presidente da Comissão de Avaliação das Credenciais dos Candidatos à Academia de Medicina.

No Sermão da Imaculada Conceição, proferido em 1649 para um auditório eclético, Vieira atribuiu a importância dos lugares ocupados, ao ocupante das cadeiras. Parte da premissa de que todo homem neste mundo deseja melhorar de lugar. E nenhum se acha em tal posto, por levantado e acomodado que seja que não procure subir a outro melhor. Considera própria esta inclinação da natureza racional, como se fora razão, e não apetite. Para refutar este abuso universal da pretensão pacífica de pretender o melhor lugar, Vieira tira da Sagrada Escritura a condenação dos lugares e diz que não há lugares.

O lugar e quem está nele, segundo a verdadeira filosofia, são tão reciprocamente um do outro que, faltando o que estava no lugar, nem ele, nem o mesmo lugar podem subsistir. Nega também que haja lugar melhor. E por quê? Porque a melhoria não está no lugar, senão na pessoa que o ocupa. Por alto ou baixo que seja o lugar, se o ocupante for bom, será bom o lugar, se for melhor, será melhor, mas se for mau e pior, também será mau e mais que mau este lugar.

O conselho de Vieira é que se quereis ter o melhor lugar de todos fazei por ser o melhor de todos e logo, o vosso lugar, qualquer que seja, será também o melhor. Os lugares desta vida mais são alheios que próprios, por mais larga que seja a mesma vida.

Esta equipe que hoje assume a Academia de Medicina de Brasília para os próximos dois anos, acredita que muito têm a contribuir.

No sermão do Conhecimento de si mesmo, Vieira diz que as obras são filhas do pensamento: no pensamento se concebem, do pensamento nascem, com o pensamento se criam, se aumentam e se aperfeiçoam. As obras são filhas do pensamento e das idéias com que cada um se concebe e conhece a si mesmo. Das ações generosas ou vis, cada um traz na própria cabeça a verdadeira medida.

Por isso, sigamos o que recomenda Vieira: estimemo-nos caros acadêmicos, pela parte mais nobre, para que também o sejam nossas obras. Não pode fazer nem empreender obras grandes quem se conhece e se estima pequeno.

Temas importantes fazem parte da agenda do 1º semestre como a Terminalidade da Vida – O conceito da condição terminal abordado por vários especialistas de diferentes campos da atividade humana, médica, bioética, jurídica e social.

A discussão de projeto de lei sobre a Internação involuntária para dependentes químicos de álcool, crack e outras drogas, que implica avaliar o risco de vida em contraponto ao direito de liberdade e autonomia.

De grande relevância revestem-se a formação do médico e sua competência como educador em saúde, o papel social do médico, a prática educativa e a ação educativa para promoção da saúde.

É importante, para a formação continuada dos médicos jovens, a avaliação crítica das novas tecnologias em medicina, as quais nunca podem estar dissociadas da história clínica do seu doente, seu passado e conflitos.

A academia deve incentivar o conhecimento médico, baseado em evidências científicas.

No sermão de Santa Catarina, Vieira aconselha que todos os estudiosos e doutos sejam dóceis e constantes. Porque a ciência nenhuma outra coisa é que o conhecimento claro de muitas verdades, umas em si, que são os princípios, e outras que delas se seguem que são as conclusões. E aqueles que não têm docilidade - como são os tenazes do próprio juízo, e fechados à sua opinião - ainda que a verdade se lhes apresente, não são capazes de a receber.

Por isso muitos se obstinam nos erros das escolas em que foram criados. Assim, na medicina, muitas teorias mudam ou se aperfeiçoam ao longo do tempo.

A visão einsteiniana da medicina coloca a visão newtoniana da máquina biológica, formada por órgãos e sistemas, dentro da perspectiva de energia. Prova disto foi o grande avanço do diagnóstico por imagem neste século, fundamentada na ação da energia sobre os átomos das moléculas do corpo humano.

O princípio fundamental da formação da imagem por ressonância magnética é o fato de os prótons dos átomos de hidrogênio da água, existentes no corpo serem estimulados quando submetidos a campos magnéticos de alta intensidade pela transferência de energia de uma freqüência específica, a qual excita de forma seletiva os componentes celulares.

Por meio do exame de imagem, destes diversos componentes moleculares, celulares e corporais, iluminados por esse processo energético, pode-se literalmente transformar as pessoas em “seres transparentes”.

A transição para o modelo quântico einsteiniano exige compreender o papel fundamental da energia dos corpos, para uma ampliação da formação médica. Porém, acima de qualquer teoria, o médico deve conhecer o seu doente e não simplesmente a doença, pela transparência da energia.

Como última cláusula deste discurso e para que o agradecimento não seja silencioso, muito agradeço ao meu antecessor Professor José Leite Saraiva, hoje presidente de todas as Academias de Medicina do Brasil, meu professor de ginecologia e obstetrícia nos idos anos 70 que nos brinda com uma Academia reconhecida nacionalmente, em que se espelham muitas outras em relação ao regimento e estatuto. Recebemos hoje uma instituição com lugar, endereço, registros contábeis e jurídicos obtidos pelo trabalho inigualável deste mestre.

Reverencio hoje nesta posse, todos os homens e mulheres que fazem de Brasília e do Brasil um lugar melhor para se viver. Agradeço a todas as autoridades presentes neste auditório que em seu campo de atuação podem modificar o rumo da vida das pessoas, favorecendo o acesso a uma medicina mais humana e de qualidade.

No sermão de Santa Catarina, Vieira inclui todos os assentos dos doutores, sejam das leis, da teologia ou Cânones em cadeiras de medicina, porque todas se ordenam à saúde pública.

Dou graças e agradeço a minha família, pelo respeito e amor que temos um pelo outro.

ENFIM, A TODOS: SALUTEVERITES!