PANDEMIA

 

Acad. José Ulisses Manzzini Calegaro

A atual pandemia teria começado na China em dezembro de 2019, embora o vírus já estivesse circulando há meses, segundo epidemiologistas ocidentais. O coronavírus, assim chamado porque tinha a superfície cheia de espículas, à semelhança de uma coroa, tinha agressividade dentro dos padrões de outras viroses como a da influenza e a da gripe aviária (H1N1), mas uma infectividade mais acentuada. Em fevereiro de 2020 a epidemia atingiu seu pico, alcançando a Itália e daí se disseminando por toda a Europa. O pico epidêmico nesses países estendeu-se até abril, enquanto o epicentro da epidemia passou para os EUA, afetando New York com maior intensidade.

No Brasil, o primeiro caso foi confirmado em 27 de fevereiro de 2020 e a primeira morte em 17 de março; em 01 de abril nosso país registrava 5.717 casos, com ocorrência de 202 mortes. Nesse momento a pandemia já afetava mais de 150 países.

A segunda onda estava ocorrendo na Europa, dez meses após seu início, embora fosse atribuída a uma variante do vírus original. Mas no Brasil pode ser mais atribuída ao relaxamento sanitário, em especial por diminuição de distanciamento social e falta do uso de máscaras e de higienização. Em 14/01/2021 os casos no mundo são de 93.217.023, sendo no Brasil 8.330.618, com ocorrência de 1.995.132 óbitos no mundo e 207.245 no Brasil, segundo o Dasa, com elementos de informação da Johns Hopkins University. A população mundial atual ultrapassa os 7 bilhões de pessoas.

A atual pandemia recorda o surto de gripe de 1918 que começou em Fort Riley, Kansas, EUA no mês de março, espalhando-se pelo restante do país, principalmente pelos militares que estavam aquartelados em função de 2º Guerra Mundial. Os americanos enviaram 2.000.000 de homens para a França, dos quais somente 750.000 entraram em batalha. Essa foi a porta de entrada do vírus da influenza na Europa, que se disseminou pela França, Alemanha, Áustria-Hungria e Inglaterra.

Um segundo surto da doença surgiu em Boston, Massachusetts, em agosto de 1918, com cepa mais agressiva, causando uma maior mortalidade: o indivíduo em perfeita saúde tinha a gripe, que se seguia de pneumonia bacteriana e morte em questão de 5-7 dias. Tal como hoje, os principais governos envolvidos naquela guerra censuravam as informações sobre a ocorrência e gravidade da pandemia, ao passo que a Espanha, neutra no confronto, quando acometida noticiou tudo detalhadamente, passando por isso a doença a ser chamada de “gripe espanhola”.

O terceiro e último surto ocorreu em março de 1919; estima-se que isso tudo resultou no comprometimento de 28% da população americana com 675.000 mortes; na Alemanha houve 500.000, na França 400.000 e 275.00 na Inglaterra. Ao retorno dos soldados para seus países de origem (Canadá, Austrália, Nova Zelândia, ilhas do Pacífico, Índia, África e Oriente Médio) se deve a propagação da doença. A estimativa posterior definitiva foi de um bilhão de pessoas infectadas, 50 milhões de mortos no mundo, com 20 milhões na Índia, e cerca de 50% de infecção na população humana. Não há números do Brasil, mas os jornais do Rio e São Paulo publicaram recomendações preventivas, inclusive com uso de cloroquina. A população mundial estimada em 1920 era de 2 bilhões de habitantes.

           

Grande discussão se estabeleceu sobre prevenção e tratamento da COVID-19. Sabe-se que ocorre uma politização do problema e que vários países utilizam as informações de acordo com suas conveniências, divulgando, por exemplo, menor número de casos que o real. Sabe-se também que faltava e ainda falta uma testagem em número suficiente para comprovar a virose, uma vez que a produção desse material era insuficiente para atender a demanda mundial.

Não há tratamento específico para a Covid-19 ainda: a pessoa infectada, com manifestações inicialmente respiratórias e a seguir sistêmicas, têm terapia sintomática e preventiva ao longo da evolução da doença. A maior parte dos casos não apresenta quadro clínico sério. Na prevenção, algumas iniciativas foram adotadas, mas a comunidade científica assinalava que tais estudos não deveriam ser levados em consideração por não atenderem critérios formais de investigação. De fato, é difícil estabelecer-se uma investigação apropriada de longo prazo durante a vigência de uma pandemia. Resta, de modo mais imediato, a observação de um ou outro procedimento que tenha mostrado resultados positivos. A efetividade real é a utilização de vacina, o que está sendo feito por vários países como China, Rússia, Inglaterra, Alemanha, América do Norte, inclusive com a participação do Brasil que tem muita tradição na área de imunizações. De qualquer maneira, o alcance desta pandemia é, proporcionalmente e em números absolutos, inferior àquela de 1918-1919, possivelmente por maior informação e recursos médicos disponíveis.