Discurso de posse do Acad. Marcus Vinicius Ramos na presidência da
Academia de Medicina de Brasília em 15 de março de 2018
Srs. componentes da Mesa,
Prezados colegas,
Caros convidados
Fundada por cinco médicos reunidos na residência do Prof. Antônio Márcio Lisboa em outubro de 1989, a Academia de Medicina de Brasília vem passando por um processo contínuo de crescimento e amadurecimento que se acelerou especialmente nesses últimos 10 anos.
Durante todo esse tempo seus membros têm procurado contribuir para o avanço da ciência, ouvindo, debatendo, apresentando sugestões e solicitando providências em benefício da saúde, do ensino e da pesquisa médica em nossa cidade.
Contribuímos ao longo desse período para a preservação da memória da medicina de Brasília, registrando o ponto de vista daqueles que sendo ou não médicos, foram protagonistas e testemunhas de decisões e acontecimentos que influenciaram as atividades próprias da nossa profissão no Distrito Federal.
A Academia guarda essa história desde antes da inauguração oficial da própria Brasília. Seus Anais preservam os depoimentos dos primeiros médicos que aqui chegaram e revelam o contraste que encontraram entre a realidade de uma cidade que crescia em ritmo vertiginoso e o que havia sido planejado por Bandeira de Mello, ainda no Rio de Janeiro.
Registram os relatos de nossas autoridades e as razões que as levaram a modificar o projeto original de atenção à saúde previsto para a nova capital. E lançam um pouco de luz sobre o declínio do setor de saúde a partir da extinção da Fundação Hospitalar, esclarecendo os diversos fatores que colocaram todo o sistema em uma crise que se arrasta há anos e que parece não ter fim.
Nosso carinho pela história da saúde da cidade não é, contudo, maior que o interesse que temos pelo aperfeiçoamento da educação e pelo incremento da pesquisa médica em Brasília.
Encontram-se à disposição de todos os textos das conferências promovidas sobre o método inovador e revolucionário do ensino médico nos primeiros anos da UnB – que privilegiava o atendimento à comunidade sem descuidar do paciente –, e o posterior impacto decorrente da introdução de novos cursos de medicina em diferentes instituições de ensino da nossa cidade, visto sob a ótica muitas vezes conflitante de professores e alunos daquelas instituições.
As ansiedades profissionais desses estudantes, a garantia de uma especialização de boa qualidade, a responsabilidade do pesquisador diante da sociedade e os princípios éticos que irão nortear uma futura pesquisa médica foram e ainda são objetos constantes de nossas preocupações.
Nestas preocupações estão também incluídas a incorporação de novos paradigmas à nossa prática, entre os quais se destacam o crescente processo de substituição da arte médica pela técnica, o modelo predominantemente empresarial, o predomínio do trabalho assalariado, o distanciamento cada vez maior entre o profissional de saúde e seu paciente e a gradativa diminuição da qualidade dos serviços de saúde prestados à população .
Não nos limitamos, porém, a ouvir, debater e registrar. Escrevemos artigos, acompanhamos, questionamos e valorizamos as ações realizadas pelas instituições de saúde do Distrito Federal, prestigiamos a arte na medicina, publicamos trabalhos científicos e a cada ano premiamos aqueles colegas – filiados a quaisquer das entidades médicas do Distrito Federal – que tenham contribuído de forma excepcional para o avanço da medicina de Brasília.
Nossa Academia é, portanto, uma instituição atuante, que participa, representa e influi cada vez mais nas atividades que se propôs a exercer, muito embora seja constituída por um grupo bastante reduzido de médicos. Somos apenas trinta e nove acadêmicos titulares, dezenove eméritos e um honorário. Embora este número represente menos de
0,3% da totalidade dos colegas em atividade no Distrito Federal, nossa Academia está longe de ser elitista e seu quadro de associados é bastante representativo de sua diversidade – médicos de 26 diferentes especialidades ocupam suas cadeiras e participam de seus debates.
É uma entidade aberta a todo aquele que se disponha a submeter-se às regras de admissão explicitadas em edital público, o qual é divulgado em nosso endereço eletrônico e nos meios de comunicação das entidades coirmãs, sempre que há vagas disponíveis.
Não foi pouco, portanto, o que fizemos nessas quase três décadas de existência. Nessa “curva de aprendizado” experimentamos períodos de vicissitudes e virtudes, mas enquanto aquelas ficaram para trás, estas continuaram a acompanhar firmemente a trajetória da nossa instituição.
Sabemos que experiência e expectativa entrelaçam passado e futuro, mas uma não se transforma automaticamente na outra. Mas sabemos também que esses conceitos interagem na Academia de Medicina de Brasília desde sua fundação e que nosso espaço de experiência é amplo o suficiente para embasar as expectativas que temos para seu futuro.
Mas uma vez que nossa profissão não envolve apenas o intelecto, mas também coração e alma, como transformar nossas expectativas em realidade?
Contamos com a produção intelectual de nossos pares para assumir uma posição mais assertiva nos assuntos que dizem respeito à medicina, reforçando nossa presença em outros fóruns – precisamos ir além das paredes de nossas salas e do confinamento dos nossos auditórios; contamos também com o apoio dos nossos confrades eméritos, pois
ainda muito temos a aprender com eles em nosso espaço de convivência; esse capital nos permitirá continuar a apresentar sugestões e críticas aos formuladores das políticas de saúde em nossa cidade, apoiados em pesquisas produzidas por nossos próprios associados, livres de prejulgamentos.
Pretendemos aumentar nossa influência na formação dos futuros médicos, levando os ideais que norteiam nossa Academia diretamente às salas das diversas faculdades da cidade; muitos dos nossos associados foram e alguns ainda são professores daqueles que no futuro irão nos substituir.
Vamos também estreitar os nossos laços com as demais entidades representativas dos médicos. A elas já somos imensamente gratos pelo apoio que nos dão, especialmente à Associação Médica e ao nosso Sindicato, que há muito nos recebem e abrigam em suas dependências. Alcançaremos nossos objetivos mais rapidamente juntos que individualmente.
Só assim poderemos continuar a produzir conhecimento e a guardar nossa história.
Agradecemos a confiança em nós depositada pelos nossos pares. Ser responsável por administrar nossa Academia pelo próximo biênio não será apenas um dever: será uma honra e um privilégio que assumimos com orgulho e determinação.
Muito obrigado e boa noite a todos.
Acad. Marcus Vinicius Ramos