ARTIGO RECUPERADO NA INTERNET EM 14/06/2017

Um jeito novo de operar corações
Leonardo Esteves, que atendeu Diana em Paris, usa microcâmera para reduzir cicatriz de paciente cardíaco

Cláudia Carneiro

Foto: Roberto Jayme

Noite de verão em Paris, 31 de agosto de 1997. O mineiro Leonardo Esteves de Lima tinha acabado de chegar em casa, depois de uma sessão de cinema. O telefone tocou. Era uma emergência. Leonardo percorreu rapidamente os cinco minutos que separavam sua residência do Hospital Pitié Salpêtrière e ficou assustado com o que viu. Fotógrafos, repórteres, curiosos e um batalhão de policiais cercavam o hospital. Dentro do prédio, não houve tempo para cumprimentar os colegas de trabalho. Imediatamente integrou a equipe de 15 médicos que, por duas horas, tentou salvar a vida de Diana. Coube a ele fazer a sutura de um corte profundo na testa da princesa. “Pensava sobretudo que ela era mãe. Fiquei com a sensação de derrota”, relembra o médico.

Depois de viver por 12 anos na França, Leonardo Esteves, 32 anos, está de volta a Brasília, cidade onde cresceu e formou-se médico cardiologista. Não foi por integrar a última equipe médica a atender a princesa Diana que Leonardo ganhou reconhecimento internacional, mas pelo fato de ser um pioneiro nas mais modernas técnicas de cirurgia cardíaca. Na Universidade René Descartes, de Paris, fez mestrado e doutorado em transplante cardíaco. Com o trabalho no Pitié Salpêtrière, maior hospital de Paris, com 3 mil leitos, incluiu no currículo a proeza de ter sido um dos precursores da cirurgia cardíaca denominada “minimamente invasiva”, que implanta ponte safena ou mamária com o uso de videocâmeras. Graças a elas, o cirurgião faz incisões mínimas. Cortes de até 60 centímetros para retirada da safena foram reduzidos para um ou dois centímetros. Ele utiliza ainda um estabilizador, equipamento em formato de tentáculos que estabiliza o coração de tal forma que o cirurgião faz os procedimentos sem precisar interromper a função básica do órgão. Na verdade, o aparelho substitui a circulação fora do coração, denominada extracorpórea. Esse instrumento diminui em 50% o custo da cirurgia de coronária e em 70% os riscos de complicações pós-cirúrgicas, como infecção, sangramentos e cicatrização retardada.

Leonardo desenvolveu a técnica com um colega francês e, uma semana depois de usá-la na França, em 1995, repetia a experiência em Brasília. Na sexta-feira 22, o cirurgião liberou o soldado da polícia militar Marcos Varela Sampaio, 42, para retornar ao trabalho. Há um mês, Sampaio descobriu que estava com a artéria entupida. Passou por uma cirurgia de emergência e, quatro dias depois, recebeu alta. “Estou pronto para voltar às ruas”, diz. Marx Aurélio Negreiro Fonseca, 50, ex-funcionário do Ministério da Ciência e Tecnologia, é outro paciente satisfeito. “Posso ir à praia sem problema”, conta, referindo-se à pequena cicatriz que tem no corpo. Leonardo calcula que participou de 6 mil cirurgias empregando a técnica.

Mas ele não é o único pioneiro da família. Seu pai, o cardiologista André Esteves, 72 anos, foi um dos precursores da cirurgia cardíaca no Brasil e o primeiro médico a executar um transplante de coração em Brasília. Pai e filho são colegas de trabalho. Por causa da influência paterna, aos 15 anos Leonardo Esteves já assistia à primeira cirurgia cardíaca de sua vida e pouco depois sentou num banco da faculdade de Medicina, onde teria seu pai como professor. “Meu pai nunca pensou que eu seria médico. Sempre fui bom em matemática”, conta Leonardo. “Quando passei no vestibular, aos 16 anos, foi uma surpresa para todo mundo.” O pai, hoje com 46 anos de profissão, acompanha toda novidade trazida pelo filho. “Ele é batalhador e gosta de progresso. Chega a trabalhar 16 horas por dia”, diz.